
hoje eu me senti como naquele dia em que eu me senti a complitude dentro de seu próprio paradoxo.
...lembra? quando a brisa, de início, chocou-se contra meu rosto... ao fundo a cidade como pintura real demais para ser arte, me pareceu que sentia diferente. mas que instante depois, no intervalo de tempo milimétrico entre um segundo e um de seus micro-segundos era diferente. talvez pelo gosto do cigarro na boca vazia. não passo fome, ela seria a pior dor para mim.
assim como rapidamente o tempo, ora benigno aproxima-se do que pode haver de mais maligno em si próprio também me ocorrem tais impressões. como sentimentos que invadem de maneira atroz meu cais, varrendo tudo que, sofregamente, se mantinha em pé já não mais por esforços físicos. assim ele me invadiu, e, como quem envelhece em segundos, depois da onda que bate na areia da praia apagando os vestígios na areia, estava de volta a mim mesmo.
sou múltiplo e isso assusta. sou o traído, o menino vadio, "sou homem, sou bicho, sou uma... mulher". também esteve aqui aquele que se apaixona pelas flores e pelos ventos, doce perfume que tem os braços da rainha da mata, das tempestades - meu verdadeiro caminho. lamentou-se um outro de tempos que vieram rapido demais, sem aviso. houve aquele que buscasse consolo, abrigo... houve aquele que não aceitou. não perdoou. essa liberdade que não sei se sei usar. e, se tem utilidade, que também varra os rancores antigos, não para que novos tenham espaço. ao menos não serei bom anfitrião se de repente eles chegassem sem avisar. também concordo com quem um dia me disse, que é o fim da civilização visitas repentinas.
embora eu não me preocupe muito com o que acham de mim, aqui quem vos fala é quem tem arrogância, simplesmente por ter conhecimento. e por saber que há mais, e querer seguir em frente sem pedir informações. não sei se confio. preferiu tentar sozinho... por se achar esboço inacabado. muito embora o peso tenha mostrado suas garras sobre o joelho que já não se articula como antes. não sou velho, também. estou de volta.
incomum? por que?
então aceito, e me vejo perdido diante de milhões de pessoas. mas ainda sei olhar para a paisagem, reconhecer algumas espécies, muito embora eu tenha fechado os olhos diante da miséria que se exterioriza de mim. preferi não pensar muito nisso, pensei mais em mim. agora ando sabendo, que apoio existe depois da tragédia: tenho sorte, mas não sei usar. não olho somente o que não tenho para que, amanhã quem sabe, transforme-se em hoje e que eu possa chamar então agora de "antes". o passado nunca foi tão presente e tão distante ao mesmo tempo.
e o futuro que aguardo... o sertão que me habita, união - fruto da explosão molecular, de partículas de areia uma bem junto da outra, por mais ínfimo espaço entre as duas, é uma espera enorme!
hoje também quis voltar pra casa. a casa que durante anos neguei, e nego até hoje um dia ter negado. é o que se pode aguentar e o que se poder também, ter. não me foi cruz. foi fruto de pequenas e grandes obras inacabadas. como esqueletos gigantes da metrópole que, mais cedo ou mais tarde, terão suas paredes quebradas, e mesmo sem luz, habitarão famílias que não possuem teto. dentro de mim, estas famílias se apropriaram do espaço, sentimento agudo que clama por abrigo, proteção! há de haver esperança: que restituam-lhes luz e água. não se pode esquecer também do esgoto.
não me sou estrangeiro simplesmente por faltar-me consolo. sou também tudo o que me falta. sou minha sede e meu hálito; rosto marcado recentemente, sangue fresco, mãos aveludadas. sou meus medos.
que saudades de quando morei fora de mim. sinto mais falta por não conseguir parar de crescer... e doer. naquele tempo, minha dor era carregada como quem é arrastado por anos. no devaneio de mim mesmo, onde o medo era motivo de choro. ainda hoje me é, dor de não entender. dor de saber e sentir, mesmo quando se prevê o futuro, deslizar sobre ele é realmente como estar com a cabeça de fora da janela de um vagão ligeiro, cabelos soltos, vento frio no rosto!
saudades de minha mãe.
agora gostaria de poder ligar a cada risco atravessado. abuso das possibilidades. o que me é mínimo não lhe é, eis aí a solidão.
quem lhe escreve é o ferido. não quero reclamar de tudo, espero que o mal que arrasou passe e que não mais ninguém sofra e caia. que a nuvem negra passe e leve... me leve.
sorrio e choro. também vejo-me trilhar caminhos: eis minha sina - caminhar.
largo dias, a mercê de mantimentos estrangeiros, que caem do céu. apesar do sangue, que ao menos os ventos soprem ao meu favor, que a caixa caia próxima de meu acampamento.
me iludo em tardes prazerosas, de muito riso e completa paixão, mas não suporto por muito tempo. o caos é tecido de malha esquemática, desenhada pela Ordem.
esse eu, é tão vasto e lindo! imagino-me longe sempre em busca do desconhecido. e sou traído pelo severamente programado, a que chamo "conhecido", mas que não houve tempo de percorre-lo totalmente e depois, 'conhecer' me soa mais próximo do desconhecido do que nunca. não aceito que seja diferente comigo, mas entendo minha diferença e acabo me acostumando com a idéia.
sou um canteiro de obras barulhento e que incomoda a mim e a meus vizinhos. me tira o sono. de repente estou diante de uma grande estrutura concreta, cinza, tentando impregnar-lhe de vida, tão como quando vi tuas cabanas debaixo do viaduto.
- eu só tenho um cigarro, se você fumar.
- eu também quis ter dinheiro para sua cerveja, ângela, me perdoe. ângela é artista de rua solitária e movimentada. quer uma troca, nada me subtraiu.
comprei por dois reais, outro dia, um pequeno diário veloz já escrito por artista de rua. mas calma, não o comprei por pena. tudo bem, confesso que me emprestaram metade, mas pela vitória com gosto de fracasso. pelo esboço que inacabado, foi impresso em preto e branco com alguns desenhos ordenadamente dispostos entre fôrmas, que aqui intitulo "palavras".
sou meu projeto de amanhã, que tento colocar em prática para que eu não tenha motivos de, no dia seguinte, me cobrar por não ter feito. assim como quando me culpo pelo arroz queimado! mas eu sabia que não caberiam todos no mesmo espaço. inflam e dobram, invadem, transbordam, caem.
sou o responsável e o traído.
os móveis que sonho possuir. sou o apegado à matéria. (a)traído pelo palpável, universo dos toques, acordado com choque intenso. sou também o acidente.
eu sou também o que ficou pra trás, estive com pressa pelas trilhas na mata densa, onde me assemelho e me explode o mundo sobre-natural; sou uma cadeia de explosões biológicas e químicas, tão complexo quanto a física mecânica, algo misterioso aos meus olhos.
estive anestesiado e minhas pernas voltaram mais pesadas, creio eu. encontro refúgio nos prazeres, de onde outrora pensei eu nenhum dia ter saído. aceito os prazeres mesmo sem esforço, sabendo que algo na próxima esquina é meu de direito e que por te-lo em minha posse, talvez não me seja propriedade. sou potência. sou os livros que li e os que comecei e não terminei. alguns eu não termino para que não acabem nunca em mim.
agora escrevo "eu sou" não mais como pronome de caso reto, nem mesmo em forma de ítens confusos como pode parecer. "eu sou" é pra mim simplesmente o "é".
e assim me despeço das palavras: não faço noção de seu manuseio. pego entre as mãos de maneira primária, como quem descobre fora de si, um corpo inteiro. como quem estranha a sensação de estar sobre rodas que andam independentes de sua vontade.
me recuso a matar-me, meu coração é artigo de luxo que resguardo, mas que vive mais fora que dentro de seu invólucro de acrílico. redoma vazia, coração exposto e vivo.
quero mergulhar no que tortuosamente eu um dia sonhei, embora eu corra riscos de perder novamente a partida do sobre-rodas. talvez eu consiga fazer com que o verdadeiro responsável pare no próximo ponto e que, como guia, me leve de encontro ao próximo porto.
que eu desembarque em paz e que ela me visite as vezes, como agora entrou, me despiu e encantou-me até a cama. que ninguém passe frio nessa noite. ao menos essa noite!
Milkman
(Cocorosie)
My brother
My only kin
I'm lost in tears in the mirror again
Lord knows I have no conscience
But I'll delve into my mind
Where your voice is still a maze
Lord knows I still need you
But you're far away
Lost in some playground
In Disneyland
Take me with you
We'll play till the end
And fall hard
In the face of the earth
My Brother
My long lost friend
We cut our hands
To have more skin
All I found
Once I left this land
Is the desolation of humankind
Follow me
Will you wind this tape back and
I'll be looking for you around the next bend