sexta-feira, 27 de agosto de 2010

duas dimensões*

É nesse momento a qual me encontro despido e trancado no banheiro que me olho por inteiro. aqui não tem espelho, para evitar que eu represente a mim mesmo na quem-sabe vã tentativa de enganar-me. Não! A mim cabe olhar para o que há de mais secreto, silencioso ruído interno. Há algo em mim em constante discrepância.
Nem que me deite as nove da noite depois de cansado, lhe mendigo atenção, e me levantar as três e meia da manhã, assustado sonhei que nos assaltavam e que eu não conseguia discar o número do telefone. Minhas constantes tosses que há uma semana e meia expurgam sabe-se lá o quê, agudam pontadas secas na minha cabeça. dor, quando será o dia que acordarei sem ti? Acendo um cigarro e parece-me que a partir deste momento dá-se início à compreensão dentro de mim. Já que não consigo sublimar o entendimento a favor da vida mesmo sabendo que a própria vida ultrapassa qualquer razão de por-quê's.
Eu posso sentir meu próprio cheiro e consigo olhar pra baixo, recostar meu queijo em meu peito e visualizar o que sobra do meu corpo: imediatamente entro em contato com o que falta de mim. com o que parecem ter-me subtraído. Mas não me tiraram nada! O amor que em mim pulsa e que inevitável e confusamente transformo.
É que me falta!
Como que sem notar (ou seria sem querer admitir?) TER passasse a SER. TER não é mais essencial pois mesmo quando existe a negativa NÃO TER, o meu SER me foi mais pulsante. Talvez eu nunca saiba admitir e nem sei se deixo, o fato de que tenho tudo, não me é dado o direito de NÃO SER. É porque eu nunca fui humilde (ou seria acomodado?) e suficiente para trazer a mim como espécie de reconforto interno a situação de desgraça alheia. É porque para mim, todas as dores do que se põe a morrer dividem o mesmo planeta. A árvore diante de minha janela continua e assim sempre será por muitos e muitos anos, injustamente a tremelicar enquanto a humanidade se adoece.
Você bate na porta, força a maçaneta e eu me fundo ao azulejo: sou meramente decorativo. Estou perdido! eu grito!
"E só eu posso me encontrar!"
"É tudo o que eu mais desejo!" - ela esbraveja, como se este diálogo que jamais existiu fosse inevitavelmente proferido, como que para salvar-me. Essa inércia que me carrega do vaso ao chão (tenho medo que meu peso.......) que te causa a reação. E se afastas de mim tudo se enquadra naquela natureza morta que se enche de poeira na sala, tela de pano de pinceladas mal-feitas...não tiveram noção de figura-fundo.
Sou 2D.
Me falta também profundidade.
Que vontade eu tenho de ser uma obra-de-arte, entregue à eternidade. Sem perder-se jamais. E se, misteriosa e silenciosamente o tempo quiser mostrar-me as garras e o poderio, poderia eu ser revitalizado! Meu relato histórico, meu relato artístico jamais se perderia.
E eu viveria de novo, a cada olhar interrogativo ou exclamativo (não exatamente nessa ordem) que me fosse lançado!
Relato do espaço-tempo.
Admito: sou eu o culpado!

j'attends ton regards

Quando, as 3:30 da manhã, acordei e me encontrei, me vi na cama sozinho. Te busquei pela cama toda, te encontrei ao lado dos teus. Como é a natureza humana, não? Quisera eu, natureza morta de mim mesmo poder chupar a melancia esbranquiçada de fartos caroços que pincelada em mim eterniza-se sem vida.
Me transformo em matéria pura e sinto o cheiro forte do neutro. O neutro tem cheiro também de vida. Vida insossa, mas vida! Agora compreendi clarice e sua barata partida ao meio. É que sempre tive eu também contato com o primitivo de mim ao me deparar com inseto tão indesejável!
Eu olhei nos meus olhos e me li. Não era justo cobrar-te o amor que não existe! Este solene amor que te derruba os prantos, que sonhas vendo telenovelas. Eu olhei para nós dois e nos li; sim, pois a mim não foi dado o direito de NÃO SER.
E se não sou, brota em tu o NÃO ENTENDO. Mas não somos lúcidos e tão clariceanos a ponto de amar nossas próprias incompreensões!
Não acredito numa relação de amor neutro. O meu amor tem fúria e esbraveja. a minha dor clama por salvação. Eu quero gozar, eu busco o prazer e ele inevitavelmente funde-se com minha dor. Eu, que sempre brinquei, no perigo, vivendo entre este limiar, andando em fio feito trapezista, malabarizando três pinos: eu; a dor; o prazer! Eu também não sei separar as coisas.
Pois tudo o que existe em mim existe com uma certa dificuldade. Você, que disse temer minha estagnação, eu digo o mesmo! Eu olho pra mim e temo-me! É a minha incompreensão que te tomba irrequieta. É porque não respondo, não tenho certeza, "eu não te dou a segurança neutralizada em frases exlcamativas!"
E mostra-se a mim absurdamente perplexa e diz: "Não acredito numa relação de responsabilidades únicas!"
TU OLHAS PRA TI E TE AMAS!
Eu olhei para mim e quis decifrar-me como alguém abre as cartas sobre a mesa, depois de embaralhar.
Não houve tempo!
Eu podia morar nesse banheiro!

Eu me levanto, corro para tentar ouvir os meus. eu cortei no talo o pensamento que me invadiu, não estou sozinho EU TENHO A MIM!
Tlac! PODEI! Não fui deixado sozinho na cama! eu que me atravessei e ela me deixou tranquilo no sono.
Foi como se nem ousasse despertar-me do sono profundo. Como quem teme. Talvez pensou: "Deixarei que se encontre!"
Apaguei meu cigarro e volto a deitar. Acordei as 8:30: dormi por quase 12 horas. Como alguém que adoece de repente. Só assim fui o primeiro a despertar. Eu não sei acordar. Eu não sei lutar. a culpa é toda minha: sou um equívoco!
Eu bem que podia morar nesse banheiro!

*escrito em março/abril de 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

intensidade que acontece*

O amor é o sono interrompido de súbito. É o sentir frio numa manhã gelada e chuvosa enquanto sacia-se um vício...calmamente.... há o choque entre o calor interno e o frio aqui fora. O corpo se estica inquieto, busco uma maneira de encontrar calor. Quando não existir possibilidade alguma de aquecimento o amor se extingue dentro da gente. Todos precisamos da fonte de calor pra não morrermos do não-amor. Quem não tem amor nada tem. Espero nunca sofrer disso. eu cuido de mim e tu cuidas de ti... pois embora muitos pensem o contrário, o amor é ter zelo por si mesmo... o amor existirá se antes a gente se ame. Pois serão nossos os momentos longes um do outro. Quem me dera pudéssemos viver de amar uns aos outros.

Assim como a arte existe para não morrermos da vida, existe também o amor. Viver também mata! E o amor que parte do auto-amor é maduro e liberta: respeito tuas escolhas e ainda assim te amo. O amor obrigatório fenece como as flores que murcham rapidamente após terem sido arrancadas de si mesmas. O amor que me refiro é o que perdura por si próprio: é na roseira que se encontra o elixir da vida longa. É como eu e você, encontramos vida em nós e a partir daí nosso amor tem vida. Obrigado por me injetar um pouco de vida, um pouco do amor que é seu. Agora feche os olhos e sinta: há amor em mim, aos poucos meu amor te invade.

Esse amor que te penetra dá sono. Deita, amor, se dormires não significa que não me ama. Não se esqueça: cuida de ti e estarás cuidando de mim. Estou dentro de ti. Te amo.

*escrito em 27 de janeiro de 2009.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Soneguei-me*

Sonega-te a ti mesmo e sentirás o amargo gosto na boca. Nega teus atos e também julgue-os levemente e sentirás o que eu senti. Não classifique-os com simplicidade, nem lida com eles rasamente. Enfrente-se. Fita-te nos olhos. Se não tiver força e se lhe faltar coragem escuta de teu amor e cale-se diante de suas conclusões: cada um tem o direito de pensar o que quiser. Engula-se e terás junto à saliva fragmentos de corpos estranhos dentro do teu estômago a corroer tuas entranhas.
Mas não se deixe classificar nem permita que rotulem aquilo que não sentem. Se incapazes são de percebe-los é porque evitaste que assim fosse. Entretanto debaixo de toda máscara há uma identidade. Debaixo encontrarás também o redemoinho de emoções abafadas, de gritos mudos capazes de ensurdecer qualquer ouvinte. Aqui estou nu em frente de ti e de mim, E se me sonego, é inevitável que eu não o faça contigo, pois és-me também, assim como te sou.

Escrevo pra libertar-me. Escrevo com as lágrimas que foram-me incapazes de cair. Escrevo-te pra libertar-te de mim. Deixo-me livre e assim livre estás. Se perco-te é porque também me perdi. Sei onde encontrar porém finjo não saber. Como quem tenta acabar com um vício sonegando-se o esconderijo: "eu sei onde encontrar, mas tentarei me controlar". É como se eu pré-determinasse quantos cigarros fumarei durante o dia e tentasse me condicionar à nova rotina....e aos poucos adotando novo hábito. Não me tolho, não me controlo nem me corto. Eis aí meu defeito maior. NÃO! Eis aí minha característica maior.

É como se eu não soubesse lidar com o fato de que estou aqui e de que estou vivo para evoluir-me. Devolverei-me ao fim da vida do mesmo modo que me apresentaram a ela? Não posso e não quero.
Não consigo limitar-me a isso. Sendo assim, haverá superação.
Quero o tudo. Quero o inteiro, quero o tôdo. De súbito me pergunto se assim foi. Foi? Impossível. Se assim tivesse sido não lamentaria escolhas equivocadas. Estaria eu completamente equivocado? A vida não me é constituída apenas de equívocos. Você me foi um acerto. Você me foi um milagre. A revolta nasce da incapacidade de aceitar.
Saber aceitar o que me é apresentado. Eu poderia dizer que meu maior erro é teimar em encarar a realidade? Não sei. Poder, posso, mas não há manual nenhum. Você me desconstruiu tantas vezes... Foi também por ti que aprendi que eu mesmo e o mundo, e a vida não somos, não nos limitamos em ser aquilo que esperávamos ser. É preciso aceitar e mesmo assim amar. Sem limites. Não se deve quantificar. Não se nomeia, nem é possível cifrar. Eis-me aqui incompleto, imperfeito , inacabado... eis-me aqui acompanhado do amor: o que sinto e o que recebo. Eis-me aqui só.
Eis-me aqui triste, pois permiti que classificações se iniciassem dentro de ti: permiti. Fui eu, que acreditei injusto ser deixar-te só com tuas cobranças, deixe-me assim e aqui estou, me encontrando entre vírgulas; na tentativa desesperada de separar o que pulsa misturado. Tento organizar-me em meio ao caos. Tenho vontade de ser melhor. Há em mim uma vocação: o amor. Não digas que não amo alegando minhas faltas. Não afirma que não há amor em mim. É que também me habita a paixão. Cansei de esquecer e fingir que não existo em mim. E tenho medo das consequências. Não quero perder-me para que não sumas comigo.
Cansei de sonegar-me: EXIJO-ME!
Com tudo que tenho direito!

Agora eis-me aqui inteiro a ti, e também inteiro a mim. É o que se pode aguentar. Sinto uma leve sonolência: é a paz vindo e envolvendo-me de repente. A mesma paz de quando estás comigo: seja bem vinda! Eis-te aqui, veio me beijar. Zela meu sono, ou melhor, deita comigo. Vamos dormir o fim do dia também chega: é preciso aceitá-lo.

Te aceita.
Me aceito.
Te amo.

*escrito em janeiro de 2009


terça-feira, 24 de agosto de 2010

14:50

Só agora percebo com tamanha clareza os malefícios que uma mãe traz consigo.
De geração em geração: de mãe pra filho, que por sua vez transmite aos netos e assim por diante.
É por medo de seguir adiante com meus objetos de adoração que prefiro não ter filhos. Não quero passar nada pra frente, me é permitido escolher.
Não quero fazer uso de segundas personas para que assim o que chamam de genes sejam lançados adiante.
Somos mais que animais que precisam de bandos, fêmeas e números.
Quanto mais genes somados, multiplicando-se também as necessidades de sobrevivência: mais presas, mais tudo.
A consciência. O excesso e a falta podem viver sob mesmo teto, sobre idêntica parcela de terra.
Vítimas da própria consciência dividem o mesmo espaço e a, cada vez mais onipresente, inconsequência amedronta e enfraquece os cérebros inquietos.
Parece que a dor tardará passar, a angústia será sempre presente em mim? É tanta que meus bocejos ameaçam me derrubar pra sempre.
Para toda eternidade seremos testados e quem sabe diariamente, traídos por um bocejar ou outro?
É o bocejo mudo que me expõe. Realmente ele me ajuda. Assim expresso o que não se exprime.
O bocejar é um eterno paradoxo.
Estou triste e preciso me libertar, assim perdoar, entrar em consonância gratuita com o outro. O OUTRO.
Também o outro que existe em mim e que mais de maneira rápida, tão ligeira quanto os bocejos que me surpreendem quando menos espero, me enchem os olhos de lágrimas. As mais inúteis!
Despejadas por excesso de contingência, é apenas uma medida de segurança ante o perigo iminente da explosão de glândulas lacrimais. É o bocejo!
É o bocejo NEUTRO que as escorre externamente, antes mesmo de atingir a boca e retomar o processo (quem sabe voltar a armazenar-se na espera ansiosa de sair em oportuno momento?) séca no meio do caminho...desaparece!

escrito em três de fevereiro de 2010


domingo, 22 de agosto de 2010

NUVENS SANGRENTAS*



Jamais senti tanta dor....
Fiquei cerca de uma hora sozinho no silêncio libertador da noite, que fora interrompido por um agudo sinalizador, ecoando entre minhas cavernas...
Tal som apesar de irrompido repentinamente não conseguiria ser mais intenso e doloroso quanto o grito interno... que lancinante se fazia, e ainda FAZ-SE presente.
Nem mesmo o ruído do ventilador, nem mesmo o barulho das pedras de gelo, que dentro de meu copo com vodka, conseguem ser maior.

Lá embaixo, enquanto procurava uma posição mais adequada, que pudesse então aliviar meu caos, olhei o céu. Me enviara uma mensagem. O céu que antes era negro, com pontos luminosos, (que mania/costume tem o homem de não olhar para o que se passa acima de suas cabeças!) tornou-se gris!

Como?
Repentinamente, durante à madrugada

Ainda olhei as horas no ponteiro, eram por volta de 03:23/03:25 da manhã;
...o céu foi invadido por nuvens rápidas, que por entre o corredor de apartamentos foram encobrindo o resto de luz remanescente.
PASME! As nuvens ligeiras eram avermelhadas....
cor do meu sangue....
de repente pude entregar minha esperança de grito sufocada, assim como as estrelas se pudessem, também exigiriam espaço.
E eu?
Eu agora me encontrei.
ESTOU e SOU só.

JE SUIS SEUL! tout seul!

No francês, ser e estar correspondem ao mesmo verbo. Mesma conjugação:
tomo a determinação da conjugativa francesa e afirmo:
ESTOU/SOU COMPLETAMENTE SÓ.
Não sei se terei forças para prosseguir. Provavelmente sim.
Assim como, apesar da dormência leve que toma meu punho neste momento, prossigo escrevendo.
Não sei até onde, praquê...
É muita dor, e agora entendo ainda mais perfeitamente a existência e o uso frequente das drogas....que rasamente, mansos chamam-no 'fuga'!

COMO SE FUGA E FUJÕES FOSSEM OS ADJETIVOS DESTINADOS ÚNICA E EXCLUSIVAMENTE AOS DROGADOS E BÊBADOS!

Estou enfim anestesiado, a dor existe, mas consegui sufoca-la.
Não sei ao certo como, nem até quando.
Assim eu me retiro. O silêncio da madrugada me expõe tanto!
Quisera eu poder flanar pela cidade essa hora, em busca não sei do que, não sei ao certo por onde andaria..........
*(04:38)
escrito dia três de fevereiro de 2010

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

cartas sem destino*


Chér amie,

Na virada do ano, de 2007 para 2008 eu chorei e supliquei para que deus me pudesse doar um amor. Aquele amor, que eu já, naquele momento havia entendido ser humano: embora os homens me fossem mais visíveis desta fôrma eu pude me abster. Afinal a minha fôrma era de outra natureza. Eu, que achei-me livre por não sofrer da mais comumente, disseminada pelo que chamamos de "indústria homo", fôrma, hoje surpreendo-me e admito: EU TAMBÉM IDEALIZARA. Mesmo não idealizando. Hoje está claro em mim: quem não toma partido, sem saber, TOMA-O! Não é verdade?
Eu, que tolamente na virada referida no começo deste conjunto de palavras, pedia simplesmente um amor, não sabia, que por trás, nas minhas entrelinhas, havia a carência: NÓS QUE FODIDOS FOMOS pela vida, embora em diferentes e pessoais aspectos (mesmo considerando milhares de haitianos em situação "pior") devotamos nossas necessidades em algum, alguém...
Por que é difícil carregar sozinho?

Enfim, aquele mesmo tolo e sonhador agora lhe escreve! Agora com um AMOR, Deus ouviu minhas preces, minha cara! O aprendizado jamais termina! A única certeza que eu posso chamar de minha é que mesmo nos dois segundos antes do últimos suspiro desta vida nossa É POSSÍVEL APRENDER! E aprender requer reciclagem pessoal... é um turbiulhão de emoções que me toma sempre... que me impulsiona sempre!

Lhe escrevo para lhe dizer, secretamente - pois quem sabe eu não esteja errado? , minha última descoberta: apenas uma vida....não é o suficiente para mudarmos e abrirmos mão de nossa terceira perna! Nem mesmo nós, que já nos reciclamos tantas vezes para poder caminhar, prosseguir, creio que não chegaremos a atingir uma mudança considerável!
O que chamo aqui de mudança não se trata de calar, aprender a controlar a impulsividade ou aprender a se colocar como o outro! Você percebe que, aprender a controlar o impulso não é cortá-lo?

Cada vez mais percebo calmamente, que é perigoso demais cortar os próprios defeitos: clarice já previra a máxima: NÃO SE SABE QUAL DEFEITO É QUE SUSTENTA O EDIFÍCIO INTEIRO!

Me diga quem foi que conseguiu atingir a total desconstrução sem ter cometido o suicídio? O suicídio como salvação, claro! Os covardes que ainda assim continuam vivos, nestes casos, depois de des(cons)truídos ainda mantiveram o olhar de arrependimento!
O amor as vezes é tão injusto, ou melhor, não ele: NÓS MESMOS!
O casamento é um leão por dia, minha cara! QUEM CRIA, ALIMENTA ESTES LEÕES? NÓS MESMOS!
E esperamos o momento correto para livrá-los de nossas jaulas, como se a partir do momento que tais felinos passam a pisar em terra firme, a responsabilidade passasse de nossas para terceiros, quartos, quintos, sextos!
Essa incurável mania de nós para os outros! Para que esse costume tão disseminado de almejar a alteração do que se ama? Não faz sentido! Ninguém pode alcançar tal mudança, minha amiga! Não se apaixona pelo que não existe! Esses dias ouvi que no casamento, as pessoas passam a odiar aquilo pelo qual antes era APAIXONADO! Olha que frase filha da PUTA! Mas não se pode permitir tamanha boçalidade!
É um absurdo! Entende perfeitamente os leões que me referi ali atrás, né? Enfim...
Me sinto esvaziado agora, mas me sentiria muito pior daqui alguns anos, se tal ilusão me fosse tirada.
Ficaria perdido! Muito perdido, imagina!
Não existe controle! Eu, sentimental, iria destruir a sentimentalidade dela se continuasse na vá ilusão certa que seria possível mudar isso nela! Ela não mudaria, se treinaria para que eu acreditasse nesta mudança!

Mesmo se ela quisesse, almejasse, não conseguiria....então voltamos na parte em que escrevi, dos DESTRUÍDOS.

*escrito em 2 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

natureza-morta*


enquanto retorno a pé para o meu não-lar
eu só consigo sentir a friagem tomando minha pele
ela tenta me envolver e me tomar, mas mantenho meus lábios voltados para dentro de minha boca.
minhas mãos estão nos bolsos e meu rosto e minha respiração tomados pelo frio seco que faz arder minhas narinas.
eu só consigo sentir ou não-sentir-me durante todo trajeto. só sinto-me humano quando me aproximo de casa e ao levantar-me a cabeça perceber a brisa fria doer em minha pele, ao entrar em contato com meu suor. suor?
suor que eu não senti.
(ser o que não consegui)
quando me aproximo do portão dá-me um desejo enorme de voltar ao início do percurso. é um silêncio doloroso diante dos ruídos da cidade que me deixam tão afoito e irritado.
me atormentam as pessoas correndo e suando.
são tão humanas. e eu, projeto-humano, em passos lentos só sinto-me humano quando estou no banheiro e deixo cair toda minha matéria orgânica.
só me sinto humano pela matéria morta que cheira.
só me sou humano quando tiro minhas unhas dos pés, que não consigo levar à boca, como faço costumeiramente com os dedos das mãos.
levo-as ao meu sentido e o cheiro é forte. o cheiro é humano. sou esse cheiro.
sou o cheiro de tabaco que aos poucos toma minha mão direita assim como esse grafite a toma pra si.
nu, espero o momento de limpar o que me é tão humano: meu corpo.
território meu.
território que não mostraria para ninguém.
aquilo que não deixaria sob irradiação nenhuma: meu corpo nu refletido nesse espelho.
não tenho coragem de fitá-lo permanentemente.
quero ocultá-lo.
um espelho, afinal, apenas reflete.
não transparece.
um espelho existe e se enquadra nas idéias de espelho: reflexão.
minha imagem parece real: substância e essência.
meu corpo refletido na idéia de espelho subexiste.
sou a essência de uma imagem refletida, apenas.
o que seria o pior de mim próximo àquilo que me é humano?
o cheiro que desagrada, o odor que exala.
o que são eles próximo à minha imagem não-refletida no espelho?
imagem?
...minha não-imagem não-refletida nesse espelho.
quando olho pra dentro de mim posso enxergar e ver, inúmeras não-imagens.
enxergo, apenas.
eles não refletem, irradiam.
ora opostos, ora intensos esses não-espelhos de dentro de mim me não-mostram não-imagens-mil de mim mesmo.
eu sou o óleo que transpira meus poros e o mau hálito que transpira de minha boca.
eu sou o cheiro forte do meu couro cabeludo, que produz mais matéria morta...
...os cabelos e as unhas continuam a crescer, mesmo depois da morte.
talvez eu seja uma natureza morta em sua atemporalidade.


*(escrito em 2005 ou 2006)

terça-feira, 17 de agosto de 2010


que tragédia abateu-se sobre a humanidade
que dia a dia torna-se mais desumana

onde vale mais uma mentira bem contada
a ponto de acreditarem
e comprarem-te

com a desculpa de que a verdade sobrevive
e mata-te aos poucos
esmaga a si mesmo

e ainda toma-te cuidado
e apruma-te
corra para que o gesso não endureça
e para que junto, a máscara não se mescle em cara vossa

que maldição fora essa
que lançaram sobre todos
ao lhe enforcarem as idéias
e suprimirem aos poucos teu próprio eu

falsifica-te para te unir à massa
e amaldiçoe o fordismo que impera
onde todos somos série de algo ou alguém
para que enfim, quem sabe,
possa-te saltar a artéria da criação
e assim recria-te cada vez mais

como pode camaleão sobreviver
com apenas uma metamorfose?
consegue quem sabe,
com fingimento sagrado
e muita fé
alcançar-te o topo
e quem sabe até lá
não tenha-te esquecido quem és

o que move-me é a sede de vingança
sobre todos os caretas
que gozam baixinho
sob mantas e mantras diários

sobrevive à caçada
grande mentira de si mesmo
enorme piada de (não)ser-humano

ria e sorria
mude até sua voz
jogue fora seus musos e musas
recicle-se
recria-te se te deixarem

tente levantar sempre que cair
e pensar que um dia, poderá jogar suas migalhas
a quem enormemente deseja
passar-te a perna

esfarele-se
mas não entristeça-te
jamais chore
mentira e verdade de si mesmo
quando poderá ser fiel a si próprio
representando
apresentando
quem não se crê
vendendo
o que não (se)
compra-se

representa
sois miserável
mas jamais admita
finja não ter tempo
finja
refinja
restrinja
doe
durma em paz

e tu?
quando deitar...
..poderá enfim
reconhecer-te?
este corpo cansado
e deformado
com a alma em chamas
esperando o dia nascer
sem merecer
pois não será diferente
como toda manhã o é

aguarde enquanto o sol não explode
e se proteja também dele
torna-te cada vez mais opaco
e devora-te
sempre que podes
mastigue-se
e aguarda
o tempo infeliz passar
será que você perderá
(poderá)
enfim
se reinventar?
quem acreditará na mentira
inventada
e gritada
além de vós?

as paredes que te rodeiam falam de ti?
tente se resguardar
para que no futuro
você possa enfim
re-virar-se

depois compara-te
com o que era antes
divisão
multiplicação
ou
uma mer(d)a subtração?

domingo, 8 de agosto de 2010

semente de amor



"j'ai compris tous les mots. j'ai bien compris, merci.
raisonnable e nouveau, c'est ainsi par ici..
que les choses ont changé, que les fleurs ont fané..
que le temps d'avant
c'était le temps d'avant
et que si tout zappe et lasse,
les amours aussi passent...je veux que tu saches!"





agora em que ouço nossas baladas tristes... em que caio na fossa, em francês com nossas canções tema. é pra satisfazer a necessidade de lágrima que eu tenho. e vou chorar, por ter sido ignorado um direito que era meu. algum dia, vocês, leitores se surpreenderam a ponto de jogar tudo pra cima? o espasmo do inesperado é tão grande, qualquer um que pudesse olhar-me de fora, julgaria-me insano. como pode? eu tremia. meu coração disparou. eu não queria mais ouvir nada. agora satisfaço a sede desse músculo, tão enigmático... que pode parar de bater a qualquer momento, selando assim o fim da vida orgânica.
eu sabia o que estava fazendo. por que você não se dobra e volta logo? e muda, modifica, vem, eu quis tanto limpar essa visão turva que você teve... e tem. eu quis tanto lhe salvar. era como se você tivesse dentro de um carro sob temporal. todos os vidros fechados e sua respiração toma tudo e logo chegará a invisibilidade externa. saia do carro, vem,!

é tarde!
eu já desci do carro. deixei você sozinha...já posso ver o veículo há muitos metros de distância, talvez kilômetros! também estou sozinho. somos todos sozinhos.
eu quis que você descesse do carro. mas não saí pra lhe testar! a réstia de auto-amor que me foi possível, foi gasta.
a culpa é de minha idealização extrema! afinal, não tem problema em ter, aqui em casa vossa, como espaço meu, o quarto de visitas, onde está a cama que trouxe da casa onde eu morava. a cama de solteiro. sou de sentir o chão que piso. sou terreno. preciso!
foi tirado de mim o direito que julgava ser vitalício. pois nos chamei eternos...
acreditei possuir o que pra ti, não havia conquistado ainda. eu, que mal podia esperar os jantares e les murs couverts des fleurs que tu préfères!

crepúsculo e morte

Tela de Frida Kahlo, a morte como temática.

agora que eu escrevo é difícil.. por isso levo tempo.. levo comigo.
eu tenho medo agora, também. realmente a cidade respira diferente! é a minha esperança lá fora cantando? mas ela me assusta...!
meu corpo aquecido pós-banho me faz atenção ao que interno desenvolvia-se. expeli hoje lavei-os com sabão neutro.
este momento é neutro pra mim.
mas dói.
tento chamar atenção de amigos meus... eu queria todos aqui. não comigo, poderia ser online. mas é sábado. e três da manhã. não há ninguém. tenho a frida que pintei. se não ecoasse eu não ligaria pra eles. eu preciso do silêncio! o silêncio das idéias. que me levam pra frente. infelizmente sem você.
eu entro em contato com o que aconteceu. e com o que eu ouvi... da maneira como ouvi. vindo de alguém que foi incapaz de descer e falar comigo de igual pra igual...
embora discordemos de muitos outros breves assuntos, como o que sempre me pulsa: a miséria! e de como pode ser verdade que todo mundo tem o que merece? eu tive o que mereci? uma batalha! pois saibam todos: a prerrogativa de uma guerra é a detenção de um poder que antes, não se tinha! e eu, que um dia, julguei possuir o que agora descubro nunca ter tido.
acabou.