domingo, 24 de outubro de 2010

amém

eu vivo das migalhas cristãs que caem do altar, como quando mentem que as bençãos serão derramadas diante de tanta tragédia e desgraça.
o seu deus, está longe de você, e você só o ama, por não amar-se.
o seu deus, é aquilo que você finge arrepender-se quando encontra em si. o seu deus é meramente projeção. e como toda projeção, meramente ilusória.
pega teu altar e teus frágeis discursos e permaneça em teu trono.
enquanto na senzala, cresço, e vivo só de raiva e teimosia.
obrigado pelos teus nãos, mas tenha consciência de tuas palavras.
temer a deus é temer-se a si próprio e sinto pena de ti, embora nunca tenhas pena de mim, ainda bem!
continue cuspindo pra fora, toda bobagem bíblica, saramago tinha razão quando dizia que aquele livro era um manual de maus costumes.
a mim, teu discurso sem pé nem cabeça, mais parece um vômito.
"deus nos dá aquilo que precisamos, nada mais"
que triste sois vós, com sua rasa noção de mundo!
eu, se fosse deus, ficaria furioso com tais palavras! como você sabe?
e todas as fomes que existem agora sem ter oportunidade de serem saciadas?
"é porque não precisam", dirias tu.
"enquanto continuar inventando deus, ele não existe!".
eu, continuo embaixo do altar, próximo ao inferno talvez, divido espaço com ácaros, no quarto que denuncia teu descaso com o que "deus te deu". talvez você precisasse mesmo de um espaço pra onde pudesse empilhar teus entulhos e teus lixos! enquanto sem tetos invadem edificios que "não cumprem função social". não é mesmo?
que todos como vós, dobrem a língua e comam a própria carne antes de se auto-proclamarem "cristãos".

domingo, 17 de outubro de 2010

cura



a ferida ainda se encontra aqui, aberta. percebe-se que, das extremidades ao núcleo, os processos naturais já se incumbiram de fazer sua parte. há uma espécie de crosta que fica depois que a lava do vulcão desce montanha abaixo. os rastros da mágoa e da dor.

jogo a responsabilidade sem me dar conta, pro tempo que há por vir. embora eu já tenha dito e redito que o passado e o futuro são também presente. o futuro especialmente repleto de faltas e ausências... acreditas ainda que serão repostas?

me atraso pelo meu astrológico desejo de dor e pela minha inabilidade natural com as perdas. abriu-se o baralho e como eu pude crer num futuro fadado às falsidades? em nossos jogos, os caminhos [para mim], os percursos [pra ti] e as tempestades. mas não acho que só eu viva feito alma solitária em cais abandonado. talvez você também. anote, pois estou admitindo aqui e agora o que eu jamais poderia dizer, eu que sempre soube do grito, do sangue, do fim, da inexistência do eterno. é que fui deus por uns instantes e decidi sobre o tempo.

eu já me despedi de alguém que não conhecia mais.
se fossemos tão bons quanto julgavamos ao, presunçosamente adivinhar o tempo, teríamos sabido a hora de cessar. a hora inevitável porém muito evitada de dizer: não!
o mesmo não que eu creio faltar-lhe mais que a mim.

ontem fui ao parque que carregou com perfume teu a atmosfera que se forma embaixo das copas de suas centenárias árvores. havia tanta vida! e tanta morte! até a rosa, se não arrancada, deixa marca de sua passagem no galho.
respirei fundo, pois a partir de agora, nossa visita será esquecida! eu sei que, as palavras são virtuais como meus sentimentos adormecidos que tento aos poucos, substituir.
sentei no banco que sentamos juntos. mas que pena eu ter fotografado! fotografia é microsegundo congelado.
tudo bem, aceito que aquele banco seja eterno.
mas as visitas que fiz à minha mente, ao andar por trilhas abertas por nós, agora serão vazias, esquecidas. amanhã mesmo voltarei ao parque, para que então, minha memória crie histórico e aos poucos, assisto você se afastando. como quem chegou atrasado e perdeu o bonde. aos poucos, o trem caminhará, e lentamente nossos olhares trilharão rumo à linha do horizonte.


Peito Vazio
(Cartola)

Nada consigo fazer
Quando a saudade aperta
Foge-me a inspiração
Sinto a alma deserta
Um vazio se faz em meu peito
E de fato eu sinto
Em meu peito um vazio
Me faltando as tuas carícias
As noites são longas
E eu sinto mais frio.
Procuro afogar no álcool
A tua lembrança
Mas noto que é ridícula
A minha vingança
Vou seguir os conselhos
De amigos
E garanto que não beberei
Nunca mais
E com o tempo
Essa imensa saudade que sinto
Se esvai

*

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

"agudo amor - lento desmaio"

hoje eu me senti como naquele dia em que eu me senti a complitude dentro de seu próprio paradoxo.
...lembra? quando a brisa, de início, chocou-se contra meu rosto... ao fundo a cidade como pintura real demais para ser arte, me pareceu que sentia diferente. mas que instante depois, no intervalo de tempo milimétrico entre um segundo e um de seus micro-segundos era diferente. talvez pelo gosto do cigarro na boca vazia. não passo fome, ela seria a pior dor para mim.
assim como rapidamente o tempo, ora benigno aproxima-se do que pode haver de mais maligno em si próprio também me ocorrem tais impressões. como sentimentos que invadem de maneira atroz meu cais, varrendo tudo que, sofregamente, se mantinha em pé já não mais por esforços físicos. assim ele me invadiu, e, como quem envelhece em segundos, depois da onda que bate na areia da praia apagando os vestígios na areia, estava de volta a mim mesmo.
sou múltiplo e isso assusta. sou o traído, o menino vadio, "sou homem, sou bicho, sou uma... mulher". também esteve aqui aquele que se apaixona pelas flores e pelos ventos, doce perfume que tem os braços da rainha da mata, das tempestades - meu verdadeiro caminho. lamentou-se um outro de tempos que vieram rapido demais, sem aviso. houve aquele que buscasse consolo, abrigo... houve aquele que não aceitou. não perdoou. essa liberdade que não sei se sei usar. e, se tem utilidade, que também varra os rancores antigos, não para que novos tenham espaço. ao menos não serei bom anfitrião se de repente eles chegassem sem avisar. também concordo com quem um dia me disse, que é o fim da civilização visitas repentinas.
embora eu não me preocupe muito com o que acham de mim, aqui quem vos fala é quem tem arrogância, simplesmente por ter conhecimento. e por saber que há mais, e querer seguir em frente sem pedir informações. não sei se confio. preferiu tentar sozinho... por se achar esboço inacabado. muito embora o peso tenha mostrado suas garras sobre o joelho que já não se articula como antes. não sou velho, também. estou de volta.
incomum? por que?
então aceito, e me vejo perdido diante de milhões de pessoas. mas ainda sei olhar para a paisagem, reconhecer algumas espécies, muito embora eu tenha fechado os olhos diante da miséria que se exterioriza de mim. preferi não pensar muito nisso, pensei mais em mim. agora ando sabendo, que apoio existe depois da tragédia: tenho sorte, mas não sei usar. não olho somente o que não tenho para que, amanhã quem sabe, transforme-se em hoje e que eu possa chamar então agora de "antes". o passado nunca foi tão presente e tão distante ao mesmo tempo.
e o futuro que aguardo... o sertão que me habita, união - fruto da explosão molecular, de partículas de areia uma bem junto da outra, por mais ínfimo espaço entre as duas, é uma espera enorme!
hoje também quis voltar pra casa. a casa que durante anos neguei, e nego até hoje um dia ter negado. é o que se pode aguentar e o que se poder também, ter. não me foi cruz. foi fruto de pequenas e grandes obras inacabadas. como esqueletos gigantes da metrópole que, mais cedo ou mais tarde, terão suas paredes quebradas, e mesmo sem luz, habitarão famílias que não possuem teto. dentro de mim, estas famílias se apropriaram do espaço, sentimento agudo que clama por abrigo, proteção! há de haver esperança: que restituam-lhes luz e água. não se pode esquecer também do esgoto.
não me sou estrangeiro simplesmente por faltar-me consolo. sou também tudo o que me falta. sou minha sede e meu hálito; rosto marcado recentemente, sangue fresco, mãos aveludadas. sou meus medos.
que saudades de quando morei fora de mim. sinto mais falta por não conseguir parar de crescer... e doer. naquele tempo, minha dor era carregada como quem é arrastado por anos. no devaneio de mim mesmo, onde o medo era motivo de choro. ainda hoje me é, dor de não entender. dor de saber e sentir, mesmo quando se prevê o futuro, deslizar sobre ele é realmente como estar com a cabeça de fora da janela de um vagão ligeiro, cabelos soltos, vento frio no rosto!
saudades de minha mãe.
agora gostaria de poder ligar a cada risco atravessado. abuso das possibilidades. o que me é mínimo não lhe é, eis aí a solidão.
quem lhe escreve é o ferido. não quero reclamar de tudo, espero que o mal que arrasou passe e que não mais ninguém sofra e caia. que a nuvem negra passe e leve... me leve.
sorrio e choro. também vejo-me trilhar caminhos: eis minha sina - caminhar.
largo dias, a mercê de mantimentos estrangeiros, que caem do céu. apesar do sangue, que ao menos os ventos soprem ao meu favor, que a caixa caia próxima de meu acampamento.
me iludo em tardes prazerosas, de muito riso e completa paixão, mas não suporto por muito tempo. o caos é tecido de malha esquemática, desenhada pela Ordem.
esse eu, é tão vasto e lindo! imagino-me longe sempre em busca do desconhecido. e sou traído pelo severamente programado, a que chamo "conhecido", mas que não houve tempo de percorre-lo totalmente e depois, 'conhecer' me soa mais próximo do desconhecido do que nunca. não aceito que seja diferente comigo, mas entendo minha diferença e acabo me acostumando com a idéia.
sou um canteiro de obras barulhento e que incomoda a mim e a meus vizinhos. me tira o sono. de repente estou diante de uma grande estrutura concreta, cinza, tentando impregnar-lhe de vida, tão como quando vi tuas cabanas debaixo do viaduto.
- eu só tenho um cigarro, se você fumar.
- eu também quis ter dinheiro para sua cerveja, ângela, me perdoe. ângela é artista de rua solitária e movimentada. quer uma troca, nada me subtraiu.
comprei por dois reais, outro dia, um pequeno diário veloz já escrito por artista de rua. mas calma, não o comprei por pena. tudo bem, confesso que me emprestaram metade, mas pela vitória com gosto de fracasso. pelo esboço que inacabado, foi impresso em preto e branco com alguns desenhos ordenadamente dispostos entre fôrmas, que aqui intitulo "palavras".
sou meu projeto de amanhã, que tento colocar em prática para que eu não tenha motivos de, no dia seguinte, me cobrar por não ter feito. assim como quando me culpo pelo arroz queimado! mas eu sabia que não caberiam todos no mesmo espaço. inflam e dobram, invadem, transbordam, caem.
sou o responsável e o traído.
os móveis que sonho possuir. sou o apegado à matéria. (a)traído pelo palpável, universo dos toques, acordado com choque intenso. sou também o acidente.
eu sou também o que ficou pra trás, estive com pressa pelas trilhas na mata densa, onde me assemelho e me explode o mundo sobre-natural; sou uma cadeia de explosões biológicas e químicas, tão complexo quanto a física mecânica, algo misterioso aos meus olhos.
estive anestesiado e minhas pernas voltaram mais pesadas, creio eu. encontro refúgio nos prazeres, de onde outrora pensei eu nenhum dia ter saído. aceito os prazeres mesmo sem esforço, sabendo que algo na próxima esquina é meu de direito e que por te-lo em minha posse, talvez não me seja propriedade. sou potência. sou os livros que li e os que comecei e não terminei. alguns eu não termino para que não acabem nunca em mim.
agora escrevo "eu sou" não mais como pronome de caso reto, nem mesmo em forma de ítens confusos como pode parecer. "eu sou" é pra mim simplesmente o "é".
e assim me despeço das palavras: não faço noção de seu manuseio. pego entre as mãos de maneira primária, como quem descobre fora de si, um corpo inteiro. como quem estranha a sensação de estar sobre rodas que andam independentes de sua vontade.
me recuso a matar-me, meu coração é artigo de luxo que resguardo, mas que vive mais fora que dentro de seu invólucro de acrílico. redoma vazia, coração exposto e vivo.
quero mergulhar no que tortuosamente eu um dia sonhei, embora eu corra riscos de perder novamente a partida do sobre-rodas. talvez eu consiga fazer com que o verdadeiro responsável pare no próximo ponto e que, como guia, me leve de encontro ao próximo porto.
que eu desembarque em paz e que ela me visite as vezes, como agora entrou, me despiu e encantou-me até a cama. que ninguém passe frio nessa noite. ao menos essa noite!

Milkman
(Cocorosie)

My brother
My only kin
I'm lost in tears in the mirror again

Lord knows I have no conscience
But I'll delve into my mind
Where your voice is still a maze

Lord knows I still need you
But you're far away
Lost in some playground
In Disneyland

Take me with you
We'll play till the end
And fall hard
In the face of the earth

My Brother
My long lost friend
We cut our hands
To have more skin

All I found
Once I left this land
Is the desolation of humankind

Follow me
Will you wind this tape back and
I'll be looking for you around the next bend

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

EXPLOSÃO OU O LIVRO DO BATISMO*



escreveu um amigo-amante em sete de outubro de 2010, eternizando-se em minha vida!

"*AUTO-RETRATO, SEGUNDA QUINZENA DO MES DE OUTUBRO DE 2010
ODIADO DIARIO
AS PESSOAS SÃO AQUILO QUE ELAS VIVERAM OU AQUILO QUE ELAS SOFRERAM.
SIM HÁ SOFRIMENTO SEM MESMO SENTIR DOR.
SÃO CADA DETALHE EXPERIMENTADO, DESDE O PRIMEIRO INSTANTE EM QUE HÁ VIDA NO ÚTERO.
ESTA VIDA É VOCÊ!
COMO APRENDE A ESPERAR A VIDA?
DEVE IR SE DESPRENDENDO DE SI MESMO, DEIXANDO PRA TRÁS TUDO O QUE VOCÊ TÊM.
ISSO É TÃO DIFICIL SABE? POIS AS COISAS QUE VOCÊ ADQUIRE AO LONGO DA VIDA, ACABAM POSSUINDO VOCÊ.
TUDO É MATÉRIA E UMA QUESTÃO DE POSE/POSSE.
VOCÊ É SEU CARRO, SUAS JÓIAS, SEU LAPTOP, SEU APÊ, SUAS PEÇAS DE DESIGNER, SUAS ROUPAS DE GRIFE E ATÉ SUA BARRIGA TANQUINHO.
ESTA VIDA É VOCÊ!
E TAMBÉM TUDO O QUE VOCÊ É...ONDE FICA?
DEVE SIM, SER DEIXADO PRA TRÁS, DE MANEIRA TAL QUE NADA DESEJARÁ, A NÃO SER A TENSÃO SEM NENHUMA INTENÇÃO.
É A LIBERAÇÃO DE SI MESMO OU O DEVIDO NASCIMENTO.
SÓ ASSIM CONSEGUI ME LIBERTAR E GRITEI DESESPERADAMENTE (MESMO COM ARES INTRIGADOS DE BOCEJOS -MOMENTO EXPLOSÃO): "AI QUE PREGUIÇA'"

*
saudades!