é que no peito resta o vazio infinito
e no mais, tenho pena dessa situação toda
pois não há um abraço, um consolo
o que existe é a recorrente disputa
pra quem é pior?
mas não quero disputa
eu quero que ele volte a bater
descompassadamente
mas não tem querer
medo
o medo me assombra
meu peito devastado e vazio
grita
e reclama
mas eu finjo que não escuto
pois o tempo precisa passar
e sempre passa
e como passa!
eu me refugio no ensurdecer do silêncio interno
dando festas dentro de mim
onde me apaixono facilmente
onde me encanto habilmente
com outros olhos, outra boca
mas ressinto-me de tal encanto
não compreendo-me
mas tento aceitar-me
sou assim mesmo,
de me apaixonar por flores
dores.
me senti atraente e atraído
pelo que simplesmente é
ainda não sei se quero o superficial
e me culpo por exigir sua mudança
não se sabe o que vai nos guiar daqui pra frente
não há paz mais dentro de mim
e tudo o que vem pela frente
representa
um estrondoso ponto de interrogação
nem à cartomante o futuro se mostra tão claramente
e muitas vezes se trái
essa confiança que se estabelece
a vidente o pré-visto
não me sobra tempo
não há afago
não há contato
a distância que lentamente me congela
e a solidão
que me liquifica
e de pouco em pouco
solidifica-me
não aceito a moldura em gesso fresco
não acredito no molde
não se enquadre
não se emoldure
liberta-te
tentarei
ser livre