terça-feira, 29 de junho de 2010

peito vazio




é que no peito resta o vazio infinito

e no mais, tenho pena dessa situação toda

pois não há um abraço, um consolo

o que existe é a recorrente disputa

pra quem é pior?


mas não quero disputa

eu quero que ele volte a bater

descompassadamente

mas não tem querer


medo

o medo me assombra

meu peito devastado e vazio

grita

e reclama

mas eu finjo que não escuto
pois o tempo precisa passar

e sempre passa

e como passa!


eu me refugio no ensurdecer do silêncio interno

dando festas dentro de mim

onde me apaixono facilmente

onde me encanto habilmente

com outros olhos, outra boca


mas ressinto-me de tal encanto

não compreendo-me

mas tento aceitar-me


sou assim mesmo,

de me apaixonar por flores

dores.


me senti atraente e atraído

pelo que simplesmente é


ainda não sei se quero o superficial

e me culpo por exigir sua mudança

não se sabe o que vai nos guiar daqui pra frente

não há paz mais dentro de mim


e tudo o que vem pela frente

representa

um estrondoso ponto de interrogação

nem à cartomante o futuro se mostra tão claramente

e muitas vezes se trái

essa confiança que se estabelece

a vidente o pré-visto


não me sobra tempo

não há afago

não há contato

a distância que lentamente me congela

e a solidão

que me liquifica

e de pouco em pouco

solidifica-me


não aceito a moldura em gesso fresco

não acredito no molde

não se enquadre

não se emoldure

liberta-te

tentarei
ser livre


sábado, 12 de junho de 2010

paixão marítima





você me habita de uma maneira absolutamente envolvente,
maritimamente me toma, como iemanjá enfurecida ao (re)ofertar oferendas,
buscando suas almas de alguma forma devedoras...
mas são as almas que se deixam envolver,
apaixonados pelo mar [que é teu de direito]..

maresia.

mar com poesia

já existia...
dentro de mim.
cantoria,

eu que ouvia,

de repente

o que havia?

por que o céu escurecia?

era ela

era iansã que aparecia

o mar,

em pó se transformaria

logo eu

naufragaria

embevecido

a tristeza

amarguraria

minha vida

quem diria, em pouco tempo

tudo se transformaria!

as ondas que ali

na beira da praia quebraria

já eu sabia que não

regressaria


lá no fundo,

onde nem luz mais havia

eu ofereceria

àquela que chegaria

trazendo a tempestade

disfarçada em calmaria



"é vista quando há vento e grande vaga

ela faz um ninho no enrolar da fúria

e voa firme

e certa

como bala

às suas asas empresta a tempestade

quando os leões do mar rugem

nas grutas

sobre os abismos ela passa

e vai em frente

ela nao busca a rocha, o cabo, o cais

mas faz da insegurança sua força

e do risco de morrer

seu alimento

por isso me parece imagem justa

para quem vive e canta no mau tempo."