quinta-feira, 27 de maio de 2010

dezoito graus ; quatro e vinte e um


é como se tudo que tem vida dentro de mim viesse a tona
e a fumaça que sai é involuntária!
mal se traga
suga a tudo
num raio de 10 metros a partir de si
tudo o que está estático, no lugar, ponho pra dentro
e junto, os sentimentos que perdem-se por aí
o envoltório (meu) - como monumentos que eles julgam
são mais importantes que outros,
precisam de cinquenta metros a partir de si
para garantir sua intocabilidade
que eu não seja descaracterizado!

a mosca, que zune
percebo que foge da chuva,
precisam aproveitar-se do restante de dias seus
de ponta cabeça, pousam no varal
como resistem!

de nada me diz o raciocínio
se só amo quando me gritam

a vibração
raios contínuos sobre mim
sobre nós
podem agora respirar aliviados
não estão sozinhos.

sábado, 1 de maio de 2010

'que força tem o amor de quem sabe se dar e transforma tudo em fonte de beleza?'


é quando entro em contato com o que existe em mim que o estado febril me toma e toda e qualquer mudança de temperatura, a partir de dois graus, me é sentida. estremeço e bolhas emergem de mim, estou fervendo.
foi pelo nêutro que existe em mim que preferi entrar para te receber como um anfitrião que arruma sua casa para receber estrangeiros. não que me soasse estranho, como o sentido etimológico gritaria.
mas que para que eu estabelecesse contato com o que há entre nós, assim como um segundo está entre o outro, então ocupando espaço - seria o espaço entre uma coisa e outra, seria então como aquele espaço imperceptível a olho nu que existe entre duas partículas de areia, em que se encontra o oxigênio tão indispensável para a respiração do neutro da terra - que preferi entrar em contato pura e simplesmente com o que existe em mim.
fora por isso que, entre as horas que existiram entre eu e você na distância geográfica que fora diminuindo como o suco de mamão com cenoura que acabei de bater e aos poucos, vai-se acabando. tomei sozinho, se recusastes a almoçar comigo.

tudo o que existiu entre a distância percorrida entre tu, que pra mim, vinhas ao meu encontro fora-me inerente a qualquer um que entra em contato com o nêutro: nada é inventado. sente-se como quem se desprende de qualquer máscara e sobreposto entre o que toco com as mãos tamanha veracidade desta busca, pude tocar o que em mim adormecia.
como com meus amigos que senti distância, tudo por causa de um presente dedicado tempos atrás: era um álbum de fotografias de momentos, que, imersos em nós mesmos esquecíamos da fome no mundo e dos terremotos em terras remotas ao nosso universo tão provinciano. fora por isso que me senti alheio ao que se chama amigo. não havia até então me dado conta que até aos amigos é permitido mudar.

é porque a maneira como enxergo é demasiadamente pura beirando o infantil. quando até mesmo ao entrar em contato comigo mesmo fujo com os olhos. desvio-os sem parar, como quem busca algo pra decifrar. tentativa desesperada que tenho de mim mesmo. tudo isso pra mim é a libertação da auto-invenção, como se o mundo, fora nós, se resumia a tédio e pó.
entre um amigo que quer apenas tocar uma música, enquanto os outros tentam conversar, briga entre leões e outros signos do zodíaco.
não temo naufragar e brigo para que as velas de tão frágil embarcação continuem ateadas em busca de terra firme e quem sabe, fértil.

esperei que teu navio não se deparasse com nenhuma intempérie severa e que mesmo se tudo acontecesse as avessas, como inúmeras vezes o tempo nos surpreende com manhãs lindas por fora e nubladas dentro de nós.
quero poder partir, chegar e fantasiar. desbravar oceanos dos olhos teus.

arrogantemente permito-me pintar os rostos que esboço de maneira duvidosa em palavras que talvez jamais você lerá: quero poder te olhar como ontem olhei para um e disse 'o que há de mais em perguntar o que você acha verdadeiramente?'. é porque tenho dentro de mim o dever do grito, mesmo quando não me é permitido sonhar. é porque só meu sangue sabe das grutas que pintei com o primitivo de mim, ignotas noites escuras que passei ali sozinho, berrando pra mim mesmo. é o grito que me faz tão dono da verdade. mas não tapo os ouvidos para os gritos dos outros e adoraria que todos a minha volta também berrassem junto comigo. escrevo de sede dos teus lábios, mesmo que pareça juvenil demais a decisão de cravar estas letras aqui, onde não se tem papel pardo nem lápis arranhado de estilete e onde o espaço virtual não se pode tocar.

volte por favor e vamos nos reinventar.