
naquele domingo, em que tarde daquela mesma tarde, voltava de reunião amigável onde havia tragado o diazepan-natural, meu 'dentro' de mim mesmo, assim pacificamente, deixara de ser neutro diante da urbe escurecendo. sempre que queimo e trago, prendo... prendo pois é a libertação. me desprendo de mim, e vou vagando... sentindo o mal cheiro dos pombos, que de ratos voadores, transformam-se em lindas corujas gordas, flanando entre a catedral, a coronel marcondes e invadem sorrateiramente a praça da bandeira...doidas para se livrar do julgo comum que as chamam fétidas e transmissoras de doença. parece até pensarem, 'quem pensam eles que são? o banheiro público, lotados de rapazes e moças 'bem' intencionados, como conseguem permanecer ali diante de tanto cheiro de xixi?'.
senti a água que respinga da fonte [e dos corpos dos pombos] cair levemente sobre meu rosto, havia cheiro de água-quase-chuva também!
meus ouvidos ouviam o bater de suas asas, o barulho da pipoca estourando nos carrinhos dos vendedores: 'que pipoca diferente será essa? por que a que eu faço em casa, nunca fica assim?'. parece ser possivel ler seus pensamentos... talvez o segredo seja tão simples quanto uma colher de chá de açúcar de confeiteiro, ao invés do açúcar cristal! ou seria o refinado?
essas vozes se ocultaram, pois eu pude também ouvir o ronco do sujeito que derrubado não sei por quem nem por quê, babava contorcido no banco da praça.
ao longe, só podia ouvir as vozes que se revezavam no palco mal projetado, que a mim, jamais receberia público digno nem muito menos boas vozes. me enganei redondamente! naquela mesma tarde, fim dessa exata tarde, quase noite, a platéia estava lotada! e no palco, gentis cantores, embalavam-nos em melodias tristes de sons e parafernalhas auditivas [ainda assim notei o áudio estourado] quase que precária! talvez os críticos ressaltassem a falta de rigor do público que ali tomava a praça do centro de uma cidade de província, do lado oeste do estado... eu, eu estava ali. eu fui embalado por esses sons. eram musicas brasileiras, eram baladas tristes, melancólicas.. alternavam os idiomas, um italiano arranhado, talvez de um morado dali perto que toda vida nutriu paixão pela língua estrangeira [muito comum entre os habitantes de tal cidade: cultivar o que há lá fora, sem deixar a empáfia interna!], que talvez tenha conhecido através de algum ancestral que imigrara ali, para cuidar dos cafés! como eram grandes tais fazendas!
eu confesso que não conhecia tais baladas, até cantarem aquela que diz 'um dia, gatinha manhosa, eu prendo você, no meu coração! quero ver você fazer manha então! presa no meu coração! quero ver você!'. e eu vibrei! calado! público muito educado, embora alguns ainda estivessem de costas, muitas senhoras tinham leques e tentavam quase que inutilmente cessar calor! 'mas ha essa hora!' talvez se ouvisse a trezes metros de distância! ou seriam quatorze?!
surrealismos a parte, quis firmar meu pé no chão! ali, nesse exato momento, enquanto o cantor errava o refrão [não teve importância! era lindo demais!] tive vontade de enquadrar a fonte da praça, eu queria mostrar que aquilo era a cidade que eu havia nascido! e inutilmente eu pensava: mas como não divulgaram! nada ali era programado... aquele sonho, em que eu pude sentir toda a força do que existia, (mesmo que na noite de um domingo, dia morto, dia odiado, pelo começo que precede o dia seguinte) era puramente voluntáriol! olhei à minha volta, haviam também mendigos! logo notei, o público e o 'show' eram frutos dos próprios moradores dali. também havia proximos a mim, dois amantes, no escuro abaixo da copa de uma árvore de médio porte, tudo gravei! eu estava mesmo em Prudente!
meu telefone tocou! era meu amor! e aquele amor, que eu, classifico e chamo e creio ser meu, furiosamente questionava! afinal, há muitos minutos eu ainda disse que havia acabado de pular do carro na praça! como eu quis poder dividir com meu amor, aquele momento!
meu amor estava no alto de um prédio, concretando não sei o quê: seria o amor por mim, ou seria a dúvida: 'aonde será que ele está agora? talvez tenha mentido pra mim, quando disse que saltara ainda há pouco na praça, sim, porque se assim fosse, já teria dado tempo de teres chegado!'
justifico e digo, já vou! é quando a senhora, que eu ainda ouvia há pouco disparava elogios enquanto o outro cantava,se abanava, se abanava (de maneira expansiva) assumiu o palco, agradeceu e cantarolou mais uma triste melodia!
que noite feliz aquela, em que eu assisti, ainda que tímido e com certo desconforto por obter em minhas mãos algo de valor-matéria (nem meu era, tive medo de ser culpado pelo sumiço, pelo roubo.) mas mesmo que timidamente, sentado ainda pude registrar esse dia, que jamais esqueceria.
o que eu tinha de mais valioso ali, pulsava irregularmente dentro de mim. se eu fosse um personagem clariceano, talvez acreditasse ser pressão alta!
o dia em que a cidade se vingava de mim!
voltei ao encontro de meu amor, e o que me incomodava era sim o fim daquele cigarro!
eu queria mais! se eu pudesse prolongaria aquela noite, para até o resto de mim, ainda que mais a frente, minha febre ameaçasse cessar, e talvez quem sabe injustamente eu considerasse ter sido um sonho.
o dia em que a cidade se vingou de mim!
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Um comentário:
No comments... aliás, já comentamos... lindo! (ando achando que vc está virando um Relações Públicas - rssssssssssssss)... Gatinha manhhosa??? Que medo!!!! Amo essa música! E o Tremendão cantando isso era muito fantástico! Que nostalgia gostosa!!!! Eu era só uma criança... putz! quanto tempo rssssssss... ainda bem que ainda lembro rsssssssss... kisses kisses and bye bye
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