
sou um animal sentimental
me apego facilmente ao que desperta o meu desejo
uma parte de mim ama
a outra odeia
uma parte de mim se anima
a outra se entristece
enquanto uma parte de mim se fecha
a outra se prepara para abrir-se
sinto que há dois, três...
e a outra, tenta se afirmar como única
não há como abafar as vidas de dentro de nós
pois enquanto uma delas viva
a outra, outrora, deseja parar de viver
enquanto uma aperta sempre o botão da vida
a outra, esquece-se de sua existência
e vive sempre do lado selvagem
enquanto parte de mim encontra perguntas
ouvindo bethânia
a outra acredita ter respondido todas
ouvindo baladas popularmente estrangeiras
se coloca a dançar, como se comemorasse alguém
ou seria algo?
a outra a despreza pois se pergunta 'o que queres comemorar?'
enquanto uma delas sente-se rejeitado
por causa do beijo da manhã
que não chegou
a mesma o cobra com tamanha fúria
que parece estragar o resto do dia
a outra, parece esquecer de tudo
e se põe a lembrar dos momentos
que se assemelhavam ao que se acredita ser a 'felicidade'
existe também a outra parte que pensa ser pai
há milênios
que acredita ter criado toda a humanidade
e explicar todos os fenômenos naturais
com uma certeza inabalável
enquanto essa mesma parte se congela
a outra parte se preocupa em esquentar o corpo
pra que o molde não se endureça
para que a outra parte, paradoxal à ela depois não morra
todas as partes fazem o conjunto.
a unidade
compõe-se
da comunidade
a humanidade
compõe-se
de uma comum-unidade
ser-humanidade
ser-humano
enquanto uma se embebeda no sábado a noite
e se preocupa quando o sábado chega ao fim sem um porre
a outra, encara o final da semana como o começo da próxima
enquanto uma com certeza vai se preocupar com a segunda-feira
a outra odeia o domingo, mas tem de recomeçar
enquanto aquela que ontem se sentiu rejeitada
se fecha, na esperança de alguém abri-la
a outra a classifica infantil
és homem, és parceiro
enquanto uma sonha em ter o teto todo seu
a outra se compadece, e segue a regra
é a vez dos filhos!
e a outra fuma em lugares fechados
quebra as regras, segue não se sabe o quê!
metade de mim se pesa, pondera
a outra delira de ciúmes
o ciúme que a outra parte acreditava não exisitir
esta parte assumiu
e a tentativa vã de descobrir
é vida
ou é morte?
uma parte morre por amor
se enlouquece
a outra
se embebeda
da realidade
que não sabe explicar
algumas dessas
separam vivências
e chamam 'fases'
outras, desprezam tal conclusão
e ainda se abrem
pra novas descobertas
acreditam na unidade
repleta de diversidade
diversos
num uno
a parte de mim que pondera
parece ser lúcido
parece cobrar mais aos outros
que a si mesmo
não sei especificar qual parte de mim questiona agora:
aonde está a sensatez?
incoerente!
sim. se existe uma palavra que talvez classificasse a todas elas
seria: incoerente.
seria....ou é?
droga. não sei mais qual metade escreve
e qual metade comanda.
talvez seja aquela mais imparcial.
não quis entregar a outra metade, composta de outras partes
sabe que depende também delas
para que cresça
que tome dimensão
uma parte resiste
a outra se entrega
e desiste
a que resiste
culpa a outra pela desistência
que à ela é fraqueza
a que desiste
lamenta, a normalidade daquela que acredita
em palavras-feitas e lugares-comuns
vive-se assim
basta apertar o botão
para que a luta comece
a morte não existe!
a luta, é eterna.
Um comentário:
somos todos coerentemente incoerentes, e não há nada de incoerente nessa coerência! -Q
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