terça-feira, 2 de novembro de 2010

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artéria desinchada, corro em veias tuas
eu quero circular

a escala da cidade
me diverge de ti
embora o teu desejo
seja também como o meu

extravaso-te
e entro
sou o alvo dos olhos do mundo
me ressinto
me perseguem

como
do que me ofereces
pois ainda há fome
em mim
em ti
em nós

o espaço inflado
meio metro quadrado
meio quadrado
é meu

o caos reina
em ordem minha
minha miséria
está colada na sua

abaixo a cabeça, mas aguardo
ansioso para ergue-la
reconheço em mim
nossas ânsias
estão entrelaçadas
embora eu me ilumine todo
e tento.

eu consumo
e vivo,
espasmo muscular

enquanto ando pelas águas,
leve torpor

milhares de outros glóbulos
que me foram sonegados
pulsam
e por si só
são menos onerosos

as fibras musculares rompidas
a dois passos de mim

queridos vizinhos,
salvem-se se puderem
pois minha descoberta continua

dor lúcida
o iminente "só"

o que comemoras?
se em mesa tua
repousam as coisas
inanimadamente
animadas por vós?

há que se pagar um preço alto
por passar incólume às existências
facilmente sonegáveis

corpos que caem
e levantam-se

mais um dia na cidade
inegável solidão

partilhada!


2 comentários:

Pétilin disse...

Lucidamente, mas miopiamente deixo a dor dilacerar a alma. Finjo não ver as imagens que são reais e me ferem amargamente. Por fim suicido-me, e ainda peço desculpas se não o fizer direito...

Camila S. disse...

Partilhada à mesa, partilhada em cada gole, partilhada no olhar: todos os cantos são cheios de solidão.