
escrevo agora como um projeto inacabado
que aos poucos adota e adota novamente e depois mais uma vez, já percebeu que a vida é um adotar constante?
adota-se uma vida, e vive-se.
pois não vive-se mais pela vida... porque a vida cai aos pedaços ao nosso lado, e
as pessoas caem
nosso pais caem
e nossos heróis estão todos mortos
sou um eterno quase
assim mesmo
quase
amadureço
no fundo, somos eternas crianças
algumas não souberam amadurecer
outras amadurecem,
ou melhor,
outras quase que amadurecem rápido demais
mas mesmos estes, ainda estão ligados e formados
pelo que já passou de si mesmo
o passado, o peso do passado de hoje
do que o passado representa hoje
seria o ontem?
vive-se no quase tudo tem nome
e é por isso que querem tanto enquadrar-se em algum quase!
mas morre-se todos os dias,
não se escolhe o quase para morrer
por mais que dividamos,
sempre ligeiramente sem saber
que aqueles que quase morreram
admitam "valorizar a vida"
os acidentes!
a vida é mesmo um acidente, nasce-se
por acidente
quando começo, em um pulo,
e alcanço logo um "quase justificar-me"
tudo aquilo que quase aconteceu
o quase-amor
a quase-viagem
o quase-sonho
e sabe que quase me vicio na dor?
...ela, minha companhia
agora estou sendo quase-piegas
também sou um quase-romântico.
e a raiva diária desconta-se em si mesmo
a raiva pelo silêncio
como seria se eu tivesse vencido o quase,
e quase tivesse ido embora
sem a minha segurança
mas eu sempre soube
agora acho que estou confuso
comigo mesmo
essas confusões que nos acometem
alguns passam incólume,
mas por pouco tempo
elas sempre voltam..
as memórias munidas todas de seus inúmeros "quase's"
pra quê tanto sofrimento?
muda-se o próprio destino
(agora o destino quase-existe)
há que sentir o peso daquilo que é considerado "responsabilidade"
era isso então?
existem tantas perguntas
somos quase todos repletos de interrogações
percebe-te, não te perguntaram nada
os vícios justificam-se
inúmeros vícios
tenho vício pelo prazer
há que se ter prazer também
acredito também que programa-se, como novelo de bicho da seda que aos poucos tece fio a fio - tira-nos os chumaços de algodão e logo vamos a tecer outros,
prazer digitalizado, alienado, virtual
a história musicada
trilha por trilha
músicas que nos levam a outro lugar
os músicos e poetas são tão mentirosos!
ilusórios.
e a arte passa mesmo a existir,
correto estivestes quando dissestes,
por tornar vivível a vida
por defrontarmo-nos diante dela.
agora senti a dor do corpo
do peso do corpo
sobre o corpo
todos somos sensíveis a nós mesmos
sensíveis ao próprio toque
e quem provavelmente quase não sentiu-se hoje
perdeu tempo sentindo o outro
sentir mais o outro que a si próprio também tem seu preço
se eu sempre soube como seria
se por todo sempre eu soube das existências dos quases e suas causalidades
hoje vou atrás de qual quase?
como aquele desenho que quase se terminou
aquele amanhecer que ficou começado no pedaço de pano da vida
ou aquela noite inacabada com o pincel ainda úmido do lado
(a cena: queima-se outro cigarro)
a felicidade como um outro quase
o amor como um quase
o "quase-amor"
a certeza de que
"o amor e a felicidade juntos, é quase um milagre!"
então nos deparamos diante do tão dito amor
hoje transformado em projeção de todos os "quase's"
o amor não se define -
e estremece entre
"a liberdade do objeto (o outro)
----------------------------------(o amor)
e a liberdade do sujeito (o eu)"
e emburrece diante de sua impossibilidade
agora ele deveria chamar-se então quase-amor
justifico agora a morte do outro
justifico a morte do sujeito
foi por uma falha: a confusão do objeto
o objeto torna-me e
confundo-lhe, o amor (me consola sua impossibilidade)
nossos, erros.